Meninas pobres da periferia do RS são usadas como cobaias humanas
Por Lark Lapato.
Adolescentes que vivem em abrigos de Porto Alegre estavam sendo testadas como cobaias pela empresa farmacêutica Bayer com consentimento da Prefeitura, do estado (do RS) e de hospitais da Capital. Os testes consistiam na aplicação de dispositivos diretamente no útero das meninas que gradualmente liberam um hormônio para impedir a gravidez.
O termo de cooperação foi firmado entre Ministério Público Estadual, Bayer, Prefeitura de Porto Alegre, Hospital de Clínicas e Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas. Segundo o acordo, a única responsabilidade da empresa era ‘doar’ 100 unidades do SIU-LNG (Sistema Intra-Uterino). O medicamento foi rejeitado pelo SUS – (Sistema Único de Saúde) em 2016. O defensor público, Felipe Kirchner, que participou do caso divulgou em sua rede social o seguinte depoimento: “As adolescentes em situação de vulnerabilidade serviam como cobaias humanas para treinamento de profissionais na aplicação de método contraceptivo desenvolvido pela Bayer”.
O termo foi assinado no dia 6 de junho deste ano pelo próprio Ministério Público em parceria com os abrigos, que se comprometeu a selecionar as adolescentes e encaminhar para receber os dispositivos.
O acordo foi suspenso nessa semana pela Defensoria Pública da União, Defensoria Pública do Estado do RS e a ONG Themis. Diversas falhas foram apontadas no caso entre elas, o fato de que a bula do medicamento recomenda que as usuárias recebam acompanhamento anual de um ginecologista. Além disso o dispositivo vence após 5 anos, e não há nenhuma garantia de acompanhamento das jovens durante ou após esse período.
Para justificar a ação, o Ministério Público alegou que o método já foi testado e é eficaz, e que as meninas eram livres para escolher usar ou não o dispositivo. A Bayer disse que agiu de boa fé “cumprindo seu papel social” ao fornecer os medicamentos gratuitamente. A prefeitura de Porto Alegre afirmou que as meninas receberiam acompanhamento médico, apesar de não haver nada a respeito disso no documento assinado.
Com esse caso fica claro entender os interesses de quem o Estado burguês defende. Para não se indispor com a indústria farmacêutica, o poder público colocou em risco a saúde de meninas pobres, sem orientação. As adolescentes estavam colocando a sua saúde em risco sem receber nada em troca! Enquanto a Bayer se preparava para aumentar a lucratividade assim que comprovasse que o remédio era eficiente para ser fornecido pelo SUS.