Um ano se passou desde que o primeiro episódio de Viver Para Lutar foi projetado pela primeira vez. E antes que estivesse na internet a proposta foi sair das lógicas virtuais e que com ele criassemos espaços coletivos de discussão e reflexão que fossem presenciais. Que por meio do filme pudessemos olharmos olhos nos olhos e debater, conversar, trocar experiências: um motivo mais para conspirar. Que com as histórias de luta e ruptura tão importantes dessas companheiras anarcopunks, anarquistas e punks que compartilharam no filme suas vidas, pudessemos também agregar nossas próprias experiências e pensar juntxs sobre como seguir adiante no combate ao patriarcado e todas as dinâmicas machistas que vivemos dia após dia dentro e fora das cenas e movimentos.
E com essa ideia se arma toda uma longa viagem de apresentações e debates com o documentário por grande parte dessa Abya Yala, batizada de América pela colonização genocida. De abril de 2019 até aqui foram muitos quilometros percorridos pelos territórios dominados pelos estados de Brasil, Uruguay, Argentina, Paraguay, Bolivia, Peru, Ecuador, Colombia, Costa Rica e… enfim México. Uma viagem feita do princípio ao fim da forma mais punk possível. Assim como durante todo o processo de realização das filmagens, uma viagem feita somente com apoio dessa rede punk/anarquista/feminista que se extende para além de fronteiras e nos tem permitido trocar sementes de subversão e fazê-las germinar. Rede que gerou apoio em cada localidade para a organização das atividades, lugar para ficar, e mais que isso, possibilidades de muita troca em todos os sentidos. Conheci compas incríveis, com projetos incríveis, pude passar por partes desse extenso território onde explodia a revolta nas ruas, presenciar o nascimento de novos festivais de cine anarquista, e com tantas compas pudemos costurar um pouco mais nossas redes e criarmos juntxs. Foi um percurso que no sentido pessoal me inspirou muito e me encheu de forças para seguir adiante.
E o objetivo se cumpriu: por quilometros de estrada foram longas conversas e debates em cada cidade, muita reflexão, surgimento de projetos e iniciativas locais, momentos bem fortes de lágrimas e o compartilhar de experiências pessoais e coletivas inspiradas por essa história que segue sendo construída até hoje em cada parte do globo.
Em todo esse contexto já é hora de que o filme também esteja disponível virtualmente, sem que com isso o olho no olho se perda. Que as histórias dessas companheiras possam inspirar e que também sigamos contando nossa história por nós mesmxs! Que com todo esse novo contexto sigamos sempre auto-críticxs e com os olhos voltados para as novas realidades e dinâmicas do poder, que sigamos criando formas livres de viver, nos relacionar e nos organizar; desafiando a ordem, rompendo o cotidiano e nos atrevendo a seguir subvertendo!
Ciudad de Mexico, março de 2020