LUTO: MORRE TINA RAMOS, A DAMA DO PUNK ROCK NACIONAL
Ariel, um dos pilares do punk nacional, vocalista de bandas lendárias como Restos de Nada e Invasores de Cérebros, anunciou o falecimento de sua esposa, Tina Ramos, nesta quinta-feira (27). Tina Punk, como era conhecida, ajudou a construir a história e foi uma das principais ativistas do movimento no Brasil desde os anos 80, sendo a principal representante feminina no gênero que culminou em uma grande revolução cultural e social no país ainda durante o período da ditadura militar.
A dama do punk tinha por volta de 60 anos e estava internada há 30 dias após sofrer um AVC (Acidente Vascular Cerebral). No aviso do Ariel sobre a morte de Tina ele ressaltou a luta vivida por sua esposa nos últimos dias. “A Grande Dama do Punk Rock de SP nos deixou hoje ao meio-dia. Um AVC devastador a levou. A Tina Ramos vai me fazer muita falta e acredito para todos que a conheceram de alguma forma. Foram mais de 30 dias lutando como uma guerreira de verdade. Que a terra lhe seja leve, minha mãezinha. Sem mais”, escreveu.
Em uma das suas entrevistas, Tina contou sobre a sua vivência no punk rock ainda nos primórdios do movimento no Brasil, formado por gangues em São Paulo que disputavam por espaços e estimulavam a desobediência.
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“Não tinha como ser mulherzinha: uma punk tem que ser forte, não pode ter frescura. Quando iam bater nos seus amigos você ia sair correndo e chorar? Não, você ia defender eles”, comenta durante a entrevista para a Revista TPM, realizada por Nina Lemos em 2013. Era uma época, segundo a própria matéria, na qual o movimento usava a violência para protestar contra a ordem das coisas e contra todos os que pertenciam à caretice do mundo e das instituições.
Tina, que já era punk antes de conhecer o Ariel, casou-se com o vocalista aos 20 anos de idade. Eles se conheceram em 1982. “A gente bateu o olho e ficou. Aí fomos em um show no Rio e passamos uma semana lá. Depois, fomos viver juntos”, comenta. É importante lembrar que o punk rock no Brasil era uma contracultura que trouxe uma filosofia entre os jovens da época de questionamento, além de uma reinvindicação por liberdade, o que para aquele período era bastante perigoso.
“Você não ficava de fora só porque era mulher. Passar noites na cadeia era corriqueiro. Eles eram bandidos? Não. Eram punks. E ser punk na época era perigoso. Ser mulher e punk era muito difícil. Você vivia em um país sob ditadura, não podia se agrupar em dois ou três que já tomava geral. E por andar com um visual diferente, de minissaia, corrente, cinta-liga, era tirada de puta o tempo inteiro”, relembra durante a entrevista que pode ser conferida na íntegra clicando AQUI.
A sua participação na história ficará marcada pela sua inestimável contribuição, parceria, apoio e incentivo à cultura. Nós também tivemos a oportunidade de conversar com a Tina em um podcast junto com o Ariel. Essa entrevista está disponível no Spotify e pode ser ouvida clicando no player abaixo.
Aos amigos, familiares e principalmente ao Ariel deixamos nossas condolências, respeito e carinho. Vale lembrar o que a Tina disse a respeito do atual momento no mundo, que cabe reflexão. “Hoje as pessoas estão muito apáticas. A gente lutou por liberdade para que todo mundo ficasse em frente ao computador?”, questiona.